quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Museu Lasar Segall



A série Intervenções tem como objetivo apresentar obras no jardim principal interno do Museu Lasar Segall. Essas obras devem propiciar ao público visitante uma reflexão sobre as relações entre espaço arquitetônico, espaço e arte pública e artes visuais. Em 2011, foram expostas as obras de Lygia Reinach, Regina Silveira e José Manuel Ballester. Em 2012 também se apresentaram Mônica Nador e Edith Derdyk. Anterior ao projeto, o artista Hilal Sami Hilal inaugurou o espaço com a obra Para sonhar continentes, trabalho inédito para a exposição Atlas, realizada no Museu Lasar Segall em 2010.

Com essa série de Intervenções, o jardim do Museu, anteriormente um simples espaço de circulação, transforma-se em uma “galeria” a céu aberto. Assim, o local ganha novos significados e estabelece, por meio da obra em exposição, um diálogo ativo com os visitantes. Ao mesmo tempo, o Museu amplia as possibilidades investigativas, inserindo novos conceitos, ações e práticas nas tendências contemporâneas de arte.

Na sexta edição, a artista convidada Marilá Dardot apresenta/escreve/inscreve o verso Para aprender da pedra, frequentá-la, sobre o piso do jardim com pedras portuguesas similares às do espaço destinado ao projeto. Esse verso faz parte do poema “A educação pela pedra” (1966), de João Cabral de Melo Neto. As letras construídas com o mesmo tipo de pedras e rejuntes de cimento criam um poema visual único. Forma e conteúdo, pedra sobre pedra, palavra sobre pedra e pedra sobre palavra constituem na criação de Marilá Dardot uma única unidade. É curioso que a pedra tenha conquistado prestígio e tradição raros na moderna poesia brasileira, em função do famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, “No meio do caminho”: “[...] no meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho [...]”, publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia, em 1928, ou seja, quase quatro décadas anterior ao poema cabralino.

Ao comentar seu trabalho, Marilá Dardot afirma:
“A estratégia de trabalhar com letras, que de alguma maneira se fundem ao chão, não é nova em meu trabalho. Já cheguei a materializar a frase do escritor chileno Roberto Bolaño: ‘Porque as palavras estão por toda parte’ (2008), retirada do romance 2666” (2004).

Serviço
Projeto Intervenções VI
Marilá Dardot – A educação pela pedra
De 24 de novembro de 2012 a 24 de fevereiro de 2012
Diariamente das 11h00 às 19h00
Fechado às terças-feiras


A educação pela pedra
João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

http://www.museusegall.org.br/

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