Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa
(Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da
Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com
apenas 29 anos, “de uma doença que ninguém entendeu”, mas que veio designada
na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi
todavia educada pelo pai e pela madrasta, Maria Espanca, em Vila Viçosa, tal
como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da
mesma maneira e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o
pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa, por altura
da inauguração do seu busto, em Évora e por insistência de um grupo de
florbelianos, a perfilhou. Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu
casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu em 1917, a secção de Letras do
Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou
com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então
procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o
Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito,
publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se
de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos e voltou a
casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano
também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henrique
Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela
casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Lage, em Matosinhos. Os
casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte
do irmão, Apeles Espanca (a quem a Florbela estava ligada por fortes laços
afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927,
marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os
problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em
Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente um
“edema pulmunar”. Postumamente foram publicados as obras Charneca em Flor
(1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília
(1930)As Máscaras do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por
Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Dário do Último Ano Seguido de
um Poema sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de
contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciados (1931, 1967),
seria publicado em 1982. A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência
dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa
ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados
no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem,
marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de
um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca
alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a
convulsão interior da poetisa para a natureza. Florbela Espanca não se ligou
claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo
e de certos poetas de fim de século, portugueses e estrangeiros, que da
revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional,
sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, facto reconhecido
pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é,
sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.
Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente
feminina (em que alguns encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia,
mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse
contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina
das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.
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