Há
uma semana perdemos uns dos maiores historiadores de todos os tempos.
Morreu na manhã da última segunda-feira dia 01 de outubro o historiador marxista Eric Hobsbawm, britânico de origem judaica, em Londres, aos 95 anos. Hobsbawm estava com pneumonia e não resistiu ao tratamento.
Morreu na manhã da última segunda-feira dia 01 de outubro o historiador marxista Eric Hobsbawm, britânico de origem judaica, em Londres, aos 95 anos. Hobsbawm estava com pneumonia e não resistiu ao tratamento.
De acordo com comunicado
divulgado por sua família, Hobsbawm deixa "não só sua mulher dos últimos
50 anos, Marlene, seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também seus
milhares de leitores e pesquisadores no mundo todo". Autor de Era
dos Impérios, Era das Revoluções, Era dos Extremos eGlobalização,
Democracia e Terrorismo –
entre muitos outros –Hobsbawm revolucionou – de fato – a historiografia e a
interpretação da História sobre o nosso tempo.
Relevante e fundamental
Poucos historiadores tiveram o privilégio e a lucidez de
refletir sobre sua própria época. Britânico, nascido em Alexandria, no Egito em
1917, Hobsbawm passou seus primeiros anos em Viena, nas ruínas do último grande
império europeu, o Habsburgo. Ainda criança se muda para Berlim, onde permanece
até vitória do partido nazista em 1933. Quando a Segunda Guerra Mundial teve
inicio - já historiador e membro do Partido Comunista Britânico - colaborou com
os serviços de inteligência e integrou o Royal Army Educational Corps, uma
divisão responsável pela instrução e educação dentro do exército.
Na década de 60, se relaciona com a privilegiada geração de
historiadores marxistas ingleses, como Christopher Hill e Edward Thompson. Seu
interesse pelo trabalhismo o leva a estudar as revoluções burguesas do século
XIX. Nascia a preciosa série dividida em eras: Revoluções (1789-1948), Capital
(1848-1975), Impérios (1875-1914). Bibliografia obrigatória dos cursos de
História de todo mundo, seus trabalhos sobre o período ainda foram acrescidos
de dois livros fundamentais sobre História Moderna: A Invenção das Tradições (1983)
e Nações e Nacionalismo desde 1780 (1991).
Seu trabalho mais marcante, no entanto, viria com “A Era dos
Extremos” de 1991. Coincidindo com boa parte do seu tempo de vida, o
historiador se coloca no papel de testemunha do mais interessante e sangrento
século da história, como costumava dizer. Ele divide o período em três eras. A
primeira, a da catástrofe, marca as duas grandes guerra, o surgimento da União
Soviética, a crise econômica de 1929 e o aparecimento dos fascismos. A segunda,
nas décadas de 50 e 60, chamada de anos dourados, período de grande expansão
econômica do capitalismo. Por fim, entre 1970 e 1991, o desmoronamento final,
quando os sistemas ideológicos e institucionais caem por terra.
Hobsbawm viveu muito, mas parece pouco frente à magnitude de sua
obra. Foram mais de 30 livros, alguns sobre paixões pessoais, como “A História
Social do Jazz” (1989), outros como reafirmação de sua coerência ideológica,
como seu último, “Como mudar o mundo: Marx e o Marxismo” (2011). Nos últimos
anos, permaneceu ativo e publicando muito. Em 2002 lançou sua autobiografia,
“Tempos Interessantes”. Cinco anos depois, alguns ensaios que incluíam análises
pontuais sobre o mundo pós 11 de setembro. Sua morte, aos 95 anos, deixa
gerações de historiadores órfãs de um dos historiadores mais lidos e influentes
do último século.
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