quarta-feira, 24 de outubro de 2012


8 jeitos de entender o mundo no feminino

1 Nem toda palavra flexiona o gênero.
Algumas palavras têm formas masculinas e femininas. Outras, não. Nos casos em que existem as duas formas, poder-se tratar o fenômeno como flexão, embora alguns tratem como derivação. Por exemplo, “menina” é a forma feminina  (derivação) de “menino”. Mas  “tecla” não tem correspondente masculino e “teclado” não tem correspondente feminino.
Em diversos casos, há alguns tipos de correspondência entre palavras e coisas: por exemplo, existem, no mundo, meninos e meninas, e a língua tem formas que designam cada grupo ou cada membro do grupo.
2 Diferentes, mas não derivados.
Há caso em que a correspondência entre seres do mundo e  palavras masculinas e femininas não é representada na gramática.  Homem/Mulher, boi/vaca, cavalo/égua , cachorro/cadela são alguns exemplos: as palavras femininas de cada dessas duplas referem-se a seres femininos, mas não são derivações da formas masculinas  são completamente diferentes delas.
3 Sem gênero oposto.
Nem todas as palavras masculinas e femininas têm correlatos machos e fêmeas – elas constituem, na realidade uma minoria. Basta considerar palavras como muro, tijolo (masculinas) e porta, chave (femininas), entre milhares de outras, em especial as ditas abstratas, como pensamento e intuição.
4 O peso da realidade.
A existência (a ocorrência) ou não de femininas de base gramatical, derivados de palavras masculinas, é, em muitos casos, efeito (embora não uniforme), de alguma correspondência de fatos da língua como fatos do mundo. Por exemplo, não haveria a forma parenta se só houvesse parentes masculinos. Por outro lado, o fato de haver algum tipo de distinção no mundo não cria formas gramaticais correspondentes. Emprega-se parenta, mas não tenenta  - embora já existem mulheres tenentes. O mesmo vale para sargenta.  Os fenômenos gramaticais relativos ao léxico são bastantes irregulares.
5 Origem esquecida.
Há femininos que resultam de derivação, mas sua origem é esquecida. Horta é o feminino de horto (Matoso Câmara pensa que sim, Bechara também, mas o dicionário Houaiss não registra): horta é um tipo de horto, assim como jarra é um tipo de jarro e um tipo de barco. Observe-se que não há, nesse caso, nenhuma relação entre gênero e sexo.
6 Mudança no radical
Muitos femininos diferem do masculino  só em sua desinência (em-a , na maior parte). Mas um pequeno grupo de palavras femininas (e de plurais) é marcado pela mudança da vogal do radical: horto/horta, porco/porca, sogro/sogra (sogro/sógra etc.)
7O peso do contexto
A questão gramatical do gênero pode tornar-se socialmente relevante em certas épocas, vir a ser objeto  de debate por motivos culturais, políticos, ideológicos. Esse movimento faz com que ocorram construções que não ocorram construções que não ocorriam ou se generalizem construções pouco usadas.
É por motivos ideológicos (valorização do feminino) que muitos iniciam suas falas com” Boa noite a todos  e a todas “, Brasileiros e Brasileiras” etc. É também por fundo ideológico similar, e militante,  que permitiu que fizesse a defesa explicita de forma “presidenta”.  E também por ideologia que surgiu discurso contrário, defendendo que tal forma não é necessária ou inexiste na língua (!) – apesar do registro de dicionários sisudos.
8 Na sintaxe
Gênero não diz respeito só a palavras,  mas atinge o domínio da sintaxe. Há estudiosos que defendem que a maior garantia  de que uma palavra é masculina  é ser precedida do artigo ö”(e feminina, se” ä”). Poucas palavras são precedidas ora por um ora por outro artigo, conforme o grupo de falantes: o/a guaraná, o/a alface etc ,. Na maioria, nenhuma variação é observada. Por isso, esta é garantia até mais solida do que o sexo (“criança” pode ser menino ou menina, “leão pode ser leão ou leoa  etc)  ou outro traço de ser. O que mostra que o gênero é questão interna da língua, é arbitrário.
Problema surge ao explicar a concordância  de predicados com sujeitos. Como  explicar “navegar é preciso”, se “navegar” é oração? Deve-se defender que é masculina? Ou enganar o ouvinte, abandonando o fato objetivo, substituindo “navegar” por  “ navegação  “ e assim explicar o feminino? E como explicar “hoje faz frio” (e não “fria”), se a oração não tem sujeito, nem oracional ? Talvez se deva aceitar a hipótese de que o português marca morfologicamente só o feminino. Mesmo finais em o (menino) tese de Mattoso Câmara, Bechara e John Martin, mas só vogal temática.                               
   
      

       
   
    
              

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