Unindo ciência, futebol e história, a mostra “Será que foi, seu juiz?” apresenta de forma interativa a complexidade e as dificuldades da atuação do árbitro em campo
Um dos personagens mais xingados no mundo do futebol em todos os tempos, protagonista das maiores polêmicas e bate-bocas nos campos, figura mítica do embate entre dois times, o juiz terá seus dias de celebridade também fora dos estádios, transformando-se em alvo de todas as atenções no Museu do Futebol, nos próximos meses. A instituição da Secretaria de Estado da Cultura, localizada no estádio do Pacaembu, vai unir ciência, futebol e história para mostrar como o ofício de árbitro e de auxiliar é complexo, desafiador e propenso ao erro. A exposição Será que foi, seu juiz? tomará uma área de 300m2 logo na entrada do museu, de 6 de novembro a 7 de abril, para que cada visitante seja juiz também. A mostra conta com patrocínio de adidas, Novelis e Sabesp, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura.
“Com ajuda de experimentos físicos, vamos mostrar como é difícil o juiz acertar em campo. Há inúmeras ilusões de ótica, por exemplo, que interferem na avaliação do árbitro e de seus assistentes no instante da jogada. A mostra também vai, é claro, rememorar em vídeo erros históricos de arbitragem, que até hoje provocam polêmica”, diz Clara Azevedo, diretora de Conteúdo do Museu do Futebol.
Ao mesmo tempo lúdica e didática, Será que foi, seu juiz? convida o público a viver experiências que mostram como a mente humana é influenciada por interferências externas. Já na entrada, há uma imagem gráfica que só é vista em total perfeição de um ponto específico. Logo em seguida, um labirinto espelhado conduz o visitante até a sala de exposição, onde encontra-se uma série de experimentos de ilusão de ótica ou simplesmente brincadeiras, que mostram fenômenos corriqueiros que atrapalham o trabalho do juiz em campo.
Ali também estão os vídeos com polêmicas históricas de arbitragem, uma linha do tempo contando detalhes de como a atuação do juiz foi ganhando espaço desde que ele entrou oficialmente em campo, em 1891, na Inglaterra, e até mesmo a chance de testar o jogo usado pela Fifa para treinar árbitros em todo o mundo.
“Esta exposição brinca com o fato de que tudo o que vemos não é necessariamente real”, diz Leonel Kaz, curador do Museu do Futebol. “Estamos sufocados por uma enxurrada de realidades, a partir até da acepção dos reality shows. Ocorre que a vida é uma interpretação subjetiva, por nem sempre o que nossos olhos percebem pelo movimento e pela posição em que estamos corresponder a como os fatos se processaram. Aqui é possível descobrir porque errar, de fato, é humano, principalmente se você quiser ser juiz de futebol”, completa.
Ilusão de ótica – O julgamento do juiz em campo pode ser afetado diretamente por efeitos de ilusão de ótica como a paralaxe e o flash lag. O primeiro refere-se à diferença aparente da posição de um objeto quando visto por observadores localizados em lugares distintos. Ou seja, por causa dos diferentes ângulos de visão, muitas vezes não percebemos que um corpo esta à frente ou atrás do outro. Daí a dificuldade de o juiz ou de os bandeirinhas dizerem se o jogador está ou não impedido. Já no flash lag, a ilusão está relacionada à chegada de um objeto ou de alguém repentinamente numa situação onde já há outro objeto ou pessoa. São necessários alguns instantes para que perceba-se que os corpos ou os objetos estão no mesmo lugar. Um tempo que não existe no futebol, por conta da pressão do cronômetro.
Na Será que foi, seu juiz?, efeitos de ilusão de ótica como esses surgem em brincadeiras e experiências visuais. O visitante é convidado a manipular uma lente em frente a uma maquete com dois bonequinhos alinhados. Ao manusear a lente, mesmo sem mexer nos bonecos, aparentemente eles mudam de posição, mostrando na prática o efeito da paralaxe. Em outra parte, há apenas ¼ de maquete de um campo de futebol, que com a ajuda de um jogo de espelhos se transforma num campo inteiro, onde é possível ver a evolução das linhas de marcação. Já o caleidoscópio exibe múltiplas imagens de juízes em ação.
A concepção da exposição é da equipe de Conteúdo do Museu do Futebol, que teve como consultores o físico e professor Marcos Duarte, autor do livro Física do Futebol, e o jornalista, pesquisador e comentarista de futebol Celso Unzelte. A cenografia tem assinatura de Vera Hamburger (de filmes como Carandiru e Deus é Brasileiro) e os experimentos e brincadeiras foram criados pela Fator Z, empresa especializada em soluções expositivas interativas, como peças que provocam ilusão de ótica e imagens tridimensionais. A Fator Z esteve envolvida na exposição O Mundo Mágico de Escher (CCBB RJ e SP em 2012) e também tem criações para o Catavento e Sabina, ambos museus de ciências de São Paulo.
Polêmicas – Na área central da mostra, um cubo suspenso alterna efeitos gráficos com imagens em vídeo de dez jogos em que a atuação do juiz e de seus auxiliares virou uma questão nacional ou internacional. O material editado pelo documentarista e videomaker Carlos Nader tem cenas históricas como um jogo entre Santos e Palmeiras, em 1983, no qual o juiz José de Assis Aragão fez um gol (a bola ia para a fora, bateu nele e entrou). Outro histórico é a final do Campeonato Paulista de 1973, quando o árbitro Armando Marques errou a contagem dos pênaltis, declarando o Santos campeão antes da hora – ainda faltava uma cobrança para a Portuguesa, que depois acabou dividindo o título com o Peixe.
De jogos mais recentes, a seleção exibe Inglaterra x Alemanha, na Copa de 2010, na qual o time inglês teve um gol anulado, porque a bola bateu no travessão e, em seguida, dentro do gol. Na dúvida, o juiz prosseguiu o jogo sem dar o gol. O resultado provocou um debate sobre erros de arbitragem em mundiais, o que fez com que a Fifa discutisse o uso da bola com chip e de tecnologia na Copa do Brasil, em 2014, já antecipando o teste no próximo Mundial de Clubes, em dezembro, no Japão. Cada um dos dez jogos ganhou comentário dos juízes Carlos Eugênio Simon e Márcio Rezende de Freitas.
No outro extremo da sala é possível viver as agruras de ser juiz. O jogo da Fifa para treinamento de árbitros ganhou uma adaptação divertida para a exposição, na qual, diante de um tela touch, o visitante tem três segundos para julgar o lance em questão, dizendo se é impedimento, cartão vermelho ou amarelo ou até mesmo pênalti, entre muitos outros.
Já na linha do tempo, que mistura a história do juiz e do futebol, há muitas curiosidades como o esquema tático do árbitro (a corrida em diagonal, feita para ver melhor o caminho da bola, é um deles) ou detalhes sobre os uniformes dos umpires, os antepassados dos atuais juízes, que se vestiam com casaca negra, cartola e polaina.
Daniel Senise – Em quatro anos de funcionamento, o Museu do Futebol já abrigou seis exposições temporárias, sobre temas variados relacionados ao mundo do futebol. Nas cinco mostras assinadas pela equipe do Museu, um artista plástico contemporâneo foi convidado a mostrar uma obra. Em Será que foi, seu juiz?, será a vez de o carioca Daniel Senise exibir uma obra inédita, em técnica mista, de aluminio com tecido, que brinca com a imagem de uma bola.
Serviço
Exposição “Será que foi, seu juiz?”
De 6 de novembro de 2012 a 7 de abril de 2013
Local: Museu do Futebol
Endereço: Praça Charles Miller, s/n CEP 01234 – 010
Horário de visitação do Museu: de terça a domingo, das 9h às 18h (bilheteria até as 17h)
Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada).
*Todas as quintas-feiras a entrada é gratuita
Tel.: (11) 3664-3848
Informações:www.museudofutebol.org.br
Twitter: @_museudofutebol
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