terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Poço.

Cais, às vezes, afundasem teu fosso de silêncio,em teu abismo de orgulhosa cólera,e mal conseguesvoltar, trazendo restosdo que achastepelas profunduras da tua existência. Meu amor, o que encontrasem teu poço fechado?Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,no poço em que caiso que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caiasde novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferire deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-mesem que tu a dirijas,porque foi carregada com um instante duroe esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorrise minha boca fere.
Não sou um pastor docecomo em contos de fadas,mas um lenhador que comparte contigoterras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorrie me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,não me firas a mim porque te feres.


Pablo Neruda

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