sábado, 12 de fevereiro de 2011

Candidato à faculdade de música tem que ser 'alfabetizado musicalmente'

Cursos superiores são de aprofundamento e não ensinam o aluno a tocar.Além dos vestibulares tradicionais, candidatos fazem prova de habilidades específicas.
Estudar música em um curso superior exige domínio da área desejada e bons conhecimentos gerais. Isso porque, na maioria dos casos, para ser aprovado na faculdade o candidato precisa passar pelos exames tradicionais do vestibular e também pela prova de habilidades específicas - consideradas 'filtros' da seleção. A profissão e a formação em música são o tema do Guia de Carreiras do G1 desta terça-feira (25).

Segundo o professor Rogério Luiz Moraes Costa, coordenador de graduação do Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP), geralmente a 'porta de entrada' dos músicos na universidade é a prova de habilidades específicas, pois é lá que serão avaliados os detalhes técnicos do candidato. "O vestibulando não pode imaginar que ele vai entrar na faculdade de música sem ter a mínima noção sobre música. A gente tenta deixar isso bem claro no manual de inscrição", afirma.

De acordo com Costa, o candidato que quer ser aprovado em um curso superior de música precisa ser "alfabetizado musicalmente", já que na universidade ele vai apenas aperfeiçoar e aprofundar os seus conhecimentos. "É preciso ficar claro que o candidato não vai aprender a tocar o instrumento na universidade", diz o professor.

Critérios são rígidos
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também tem um rígido processo de seleção, além do vestibular tradicional. Segundo o professor Carlos Fernando Fiorini, coordenador de graduação do Departamento de Música, o candidato faz cerca de cinco provas de habilidades específicas antes de ser aprovado. E para ter o direito de fazer a prova de aptidão, é preciso ter sido aprovado na primeira fase do vestibular.

Segundo Fiorini, a prova de habilidades é bastante específica e muito criteriosa. "O candidato precisar ter pelo menos uns cinco anos de experiência. Ele precisa saber tocar muito bem para ser aprovado", explica o professor, que acrescenta que o curso superior funciona como uma pós-graduação, já que o músico não vai aprender a tocar na faculdade.

Segundo os professores, os alunos fazem algumas disciplinas básicas em conjunto, como história da música, percepção e leitura, harmonia e contraponto. As aulas específicas e de aprofundamento geralmente são ministradas individualmente. Os alunos também podem cursar disciplinas optativas.

As carreiras de licenciatura e bacharelado devem ser cumpridas em quatro anos. Já as habilitações em composição e regência são cumpridas em cinco e seis anos.

Diploma não é exigência
O diploma de curso superior não é uma exigência para o músico conseguir a habilitação profissional. "A universidade possibilitará ao músico ter uma formação geral mais ampla e mais aprofundada. Para trabalhar no mercado, o diploma não faz diferença. Ele vai ser fator determinante para o músico que quiser seguir carreira acadêmica", afirma o professor Fiorini.

Os músicos precisam tirar a carteira oficial nos conselhos regionais e quem não tem curso superior faz uma avaliação no local. "É o que chamamos de músico prático. São aqueles profissionais que aprenderam a tocar em conservatórios, em aulas particulares ou até mesmo sozinhos. Para ele conseguir o título e o registro de profissional ele precisa passar por uma avaliação com uma banca de especialistas", explica João Batista Viana, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil.

Mercado de trabalho difícil
Segundo Viana, o Brasil possui cerca de 800 mil músicos profissionais. Com a habilitação, eles podem atuar em bares, casas noturnas, escolas de música e universidades (para os formados em licenciatura), bandas, orquestras sinfônicas, orquestras de peças teatrais, entre outras.
De acordo com o Conselho Federal, 80% dos músicos não trabalham na área e apenas 5%conseguem se consagrar na carreira. Os demais atuam por conta própria em escolas, bandas, etc.

Para Viana, o campo de trabalho piorou com a explosão da música eletrônica e dos DJs. "A maioria dos músicos está desempregada. Conheço alguns que trabalham como seguranças, outros que trabalham quando dá. Toda a área está ruim, o mercado piorou muito nos últimos dez anos", afirma.

A mesma opinião é compartilhada pelo músico Roberto Bueno, vice-presidente do Conselho Regional dos Músicos de São Paulo. "A coisa está realmente ruim e a situação está mais complicada para os músicos. Os DJs tomaram o nosso lugar e hoje em dia é cada vez mais raro ter festas com música ao vivo. O preço é mais alto e nem sempre as pessoas estão dispostas a pagar mais", avalia Bueno.

Não existe um piso salarial nacional, mas tabelas de preços e cachês organizadas pelos sindicatos dos músicos de cada estado. Os valores, segundo Viana, variam muito de acordo com cada profissional, a quantidade de horas e de músicos envolvidos.

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