O sonho radiante da conquista da liberdade, dos direitos civis reconhecidos e da harmonia racial nos Estados Unidos transformou-se num amargo pesadelo na tarde da última quinta-feira 4, em Memphis, no Tennessee. Martin Luther King Jr., de 39 anos, pastor batista e herói da luta dos negros americanos por igualdade, foi assassinado na varanda do segundo andar do Hotel Lorraine, onde estava hospedado. Laureado com o prêmio Nobel da Paz de 1964, o "doutor King", como era conhecido, conversava com integrantes de sua comitiva, pouco antes de sair para jantar, quando foi atingido no lado direito do pescoço por um único e fatal projétil de alto calibre, disparado de uma distância estimada entre 50 e 100 metros. A bala explodiu sua mandíbula e o arremessou contra a parede interna do edifício. King ainda foi levado para o hospital Saint Joseph, próximo dali. Menos de uma hora depois do brutal atentado, foi declarado morto. A polícia de Memphis, que ainda não identificou o atirador, está à procura de um homem de cerca de 30 anos, vestindo terno e gravata pretos, visto por testemunhas deixando as redondezas em um Mustang último modelo. O suspeito é branco.
A chocante notícia do assassinato de Luther King causou tumulto em Memphis e levou o governador do Tennessee, Bufford Ellington, a convocar 4.000 homens da Guarda Nacional e impor um toque de recolher aos 550.000 habitantes da cidade - 40% dos quais são negros. Nas horas seguintes ao crime, 60 pessoas foram presas em Memphis. A agitação alastrou-se de imediato para outros 110 municípios americanos, nos quais foram registrados confrontos de civis com policiais, incêndios e saques a residências e comércios. O saldo de 39 mortos e mais de 2.500 feridos é o sombrio prenúncio de uma onda de violência racial que preocupa sobremaneira o governo de Lyndon Johnson. Num pronunciamento de televisão transmitido menos de uma hora depois do anúncio do assassinato, o presidente conclamou os americanos a rejeitar a "violência cega" que tirou a vida de King. "A divisão da população americana e o desrespeito à lei não nos levarão a lugar algum", observou Johnson, que no passado já havia recebido o líder negro no Salão Oval da Casa Branca.
Fonte:http://veja.abril.com.br
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