Poema de carne e osso
Eu te poemo como versam os trovadores medievais
E os compositores da Lapa carioca
Numa noite suja, perdidos nos arcos imemoriais
Eu te metrifico como um parnasiano incorrigivel
E como as poetisas de Lesbos em orgias magistrais
Eu te componho num papel maché sujo de sangue
Navalha na carne, salpicando rimas desiguais
Te rimo como fazem os anjos com harpas sensuais
E repentistas com tiradas geniais
Te verso ensejos de uma paixao que tive
E desejos que não realizei mais
Te escrevo em papel de carta surrada
Amarelada por amores outonais
Te tatuo a pele com agulhas negras
Que registram desenhos espectrais
Sereias, medusas e esfinges
Fadas, gueixas, criaturas bestiais
Eu te musico com letras sordidas
De amantes em ricos esponsais
Eu te soneto como uma bossa-nova
Com rondós, idrissos e haicais
E te proso em tramas impensadas
Rica em delitos conjugais
Te esboço em linhas tortas
Num espetaculo de madrigais
E se te apago da superficie lisa
Não consigo outros traços iguais
Marcos Vinícius.
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