domingo, 2 de outubro de 2011

AMOR E JAZZ


Foram-se os belos tempos românticos, saudosos dos poetas líricos, das simplicidades daquelas moças, tão diferentes das melindrosas de hoje.

A introdução do jazz-band, do futurismo em nosso meio, foi um verdadeiro desastre para a nossa mocidade.

Anda o amor rolando na boca desses almofadinhas, que bem longe estão de conhecer o verdadeiro lirismo que o verbo amar o exige. Hoje, ama-se no estilo do jazz (amor sem dinheiro não tem valor).
Triste daqueles que nestes tempos procuram amar com o verdadeiro sentimento do coração, esses passarão por idiotas, no íntimo da melindrosa amada, esses almofadinhas que mais entendem da arte de se trajar, nunca saberão conquistar um coração puro, em plena idade de amar.
Se eu pudesse levaria um desses tipos lá no sertão para ouvirem, numa noite de luar, o gemido nostálgico da viola do caboclo apaixonado:

O amor que na cidade
Ninguém acredita mais,
No sertão é tão verdade como lírico nos beirais.

Então eles poderiam presenciar o verdadeiro amor,
o romantismo da nossa gente, lá onde,
se não contempla as loucuras diabólicas do barulhento jazz-band,
vê-se ainda os verdadeiros costumes do nosso antepassado,
o brasileiro sentimental por excelência.
Nós que zombamos do Jeca devemos nos mirar neste espelho.
Eu pelo menos sou nacionalista até debaixo d´água,
nunca troquei um choro genuinamente nacional por estridente, esquisito fox-trot.

(Fonte: Jornal Clarim da Alvorada. São Paulo, 21 de março de 1926. Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP - Documentação Resultante de Pesquisa “Jornais Negros Brasileiros: 1904-1969”.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário