quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Aos 72 anos, Ney Matogrosso está atento ao passar do tempo. Em turnê e com um álbum de estúdio recém-lançado, cumpre uma rígida rotina diária de musculação pela manhã, em sua cobertura no Rio, que lhe garante toda a energia e flexibilidade necessárias para ser Ney Matogrosso. Nos palcos, seu habitat natural, ele comemora 40 anos de carreira. E mesmo quem já o viu tantas vezes ao vivo é capaz de se impressionar com sua performance, que dá indícios de ser simplesmente perene.
"Eu acho que existe, sim, um prazo de validade para mim, e uma hora ele vai aparecer. Só não sei quando chegará", diz o cantor por telefone ao UOL. "Minha performance sempre foi muito física. E as pessoas sempre dizem que estou muito bem para alguém da minha idade. Então eu tendo a acreditar."
As marcas inapeláveis dos anos de fato precisam ser relativizadas quando envolvem um dos maiores intérpretes da música brasileira ("Nem penso nisso, procuro só fazer o meu trabalho", ele diz). Ney é jovem também musicalmente. Em diálogo com a nova geração, escolheu rechear seu novo trabalho, o disco "Atento aos Sinais", de compositores jovens, não necessariamente ligados à MPB, vindos de vários estados do Brasil.
Nomes como os rappers Criolo e Vitor Pirralho, o guitarrista Dani Black, e Beto Boing, da banda paulistana Zabomba, dividem ---em pé de igualdade-- espaço com Paulinho da ViolaLeninePedro Luís e o sempre presente Itamar Assumpção. "O resultado eu chamo de pop, mas um pop que se aproxima do rock. O rock sempre esteve presente na minha vida. Foi o início de tudo para mim. Mas, claro, eu não quero e nem consigo me prender a ele", admite.
Nas palavras curtas e sintéticas de Ney, não há um conceito ou tema que fazem girar o novo álbum, cujo repertório, de 19 faixas, teve de ser reduzido para 14. As restantes estão no show homônimo que ele apresenta desde fevereiro pelo Brasil. O registro do DVD ao vivo está previsto para 2014.
"Não quis montar o repertório para ter uma mensagem específica. A não ser, talvez, na abertura", conta, em referência à "Rua da Passagem", de Arnaldo Antunes e Lenine, que abre "Sinais da Idade". Nela, que faz do trânsito uma espécie de metáfora mundana para a intolerância, ele canta em tom ríspido: "Travesti, trabalhador, turista, solitário, família, casal. Todo mundo tem direito à vida e todo mundo tem direito igual".
"Acho que regredimos em termos de direitos. Sei que existe muito mais abertura do que existia quando comecei, muito mais temas que são aceitos e podem ser debatidos. Mas não consigo ver um avanço real nas conquistas", entende.
O pessimismo, no entanto, desaparece para falar de sua grande conquista: a inteligência da maturidade. É como se o cantor enfim pudesse encerrar o ciclo de "Idade de Ouro" (de "Água do Céu - Pássaro", seu primeiro disco solo, de 1975), em que aguarda solene por "aquele velho tesouro", um "Deus à toa e uma vida boa".
"O que me motiva hoje a levantar da cama e trabalhar todos os dias? O que sempre me motivou. Só que agora, mais velho, acrescentei outras coisas à minha rotina, que me completam". O quê? "Sair, ir ao cinema, fazer [os trabalhos de] iluminação. Hoje sei aproveitar melhor minha vida."

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