Maria de Medeiros é portuguesa, foi criada na Áustria, é casada com um espanhol e vive na França. Além disso, trabalhou nos Estados Unidos e tem uma forte relação com o Brasil. "Sou completamente do mundo. E me sinto muito bem no Brasil porque é onde encontro todas as minhas influências", conta ela. "É engraçado, várias pessoas dizem que minha casa, em Paris, parece um lar paulistano." A atriz conversou com Gente em um hotel em São Paulo, durante a divulgação de O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, segundo filme brasileiro do qual participa.
O primeiro foi O Xangô de Baker Street (2001). "Em minha carreira, aprendi muito com os atores do Brasil ao vê-los nas telenovelas. Para mim, são os melhores do mundo. Compartilhava a ideia de que um grande ator tinha de ser inglês até chegarem os brasileiros, com intensidade, graça, inteligência e falando a nossa língua!", diz ela, que também gravou um disco com canções da MPB. E entre todos os lugares que conheceu por aqui, esta atriz do mundo gosta mesmo é de São Paulo: "Fazer amigos é a melhor coisa no Brasil.
O Luiz (Villaça) e a Denise (Fraga, esposa dele) são duas das pessoas mais maravilhosas que encontrei na vida. Antes, desenvolvi uma profunda amizade pela Renata e o Leon Cakoff (organizadores da Mostra Internacional de Cinema), foi graças a eles que aprendi a amar São Paulo.
Fico impressionada pela vida urbana, pelo dinamismo que há nesta cidade", diz. Maria dirigiu um episódio de Bem-Vindo a São Paulo, projeto em que vários cineastas mostraram cada um a sua visão da capital paulistana. O currículo da artista ainda inclui papéis nas produções americanas Pulp Fiction (1994) e Henry & June (1990), e a direção e o roteiro de Capitães de Abril (2000), ambientado durante a Revolução dos Cravos, em Portugal. Em O Contador de Histórias, ela interpreta a pedagoga francesa Marguerit, que vem a Belo Horizonte e conhece, na Febem, Roberto Carlos, um menino de 13 anos considerado incorrigível.
Crente de que isso não poderia ser verdade, ela o leva para casa, e esta aproximação acaba transformando a vida de ambos. A atriz descreve sua personagem como uma idealista, qualidade que valoriza e acredita possuir. Provavelmente isso explica o significado especial que os "idealistas" anos 70 têm para ela. Tanto Capitães de Abril quanto o longa de Villaça se passam nesse período.
E o próximo projeto de Maria como diretora será uma história ocorrida na década de 70 e será rodado no Rio de Janeiro. "Sempre volto a eles porque foram anos interessantes, ao mesmo tempo de muito opressão e de grande idealismo. Tudo foi posto à prova: a sociedade, os homens e as mulheres, o sexo, o trabalho. E é preciso coragem para revolucionar todos os nossos fundamentos de uma vez. Talvez não tenha havido, desde então, tanto atrevimento intelectual e espiritual como naquele instante."
Ela lembra que em 1974 tinha 9 anos e voltou a morar em Portugal. "Só depois fui entender a importância do que estava a se passar. Achei muito desagradável aquela bagunça, as manifestações constantes e, quando saía com a minha mãe, tinha de dar beijos em 300 mil pessoas. Não estava acostumada com isso em Viena", lembra. Hoje, Maria gosta das expressões de afeto principalmente quando elas vêm de suas filhas, de 11 e 5 anos. "Elas são, para mim, fonte de inspiração e de energia. Às vezes penso em usar meu tempo para fazer massagens ou um tratamento estético, mas acabo preferindo ficar em casa com elas. É isso, amor é melhor que cirurgia plástica."
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