sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

:: O retorno da coleção Tamagni: até as estrelas por caminhos

12 JAN - 11 MAR
O Museu de Arte Moderna de São Paulo retoma sua história de forma analítica
com a exposição O retorno da Coleção Tamagni: até as estrelas por caminhos
difíceis, que abre no dia 12 de janeiro (quinta-feira), a partir das 20h.
Primeira exibição completa desde 1968 da doação póstuma de Carlo Tamagni
(colecionador e conselheiro do museu) realizada em 1967 ao Museu de Arte Moderna
de São Paulo, a mostra com curadoria de Felipe Chaimovich e Fernando Oliva
promove um debate sobre o papel do MAM-SP durante sua trajetória. Isso abrange
desde a perda de toda sua coleção original, doada à USP em 1963, até a chegada
do espólio de Tamagni em 1967 e a volta a uma sede própria (o mesmo prédio de
hoje) em 1969, chegando aos dias atuais.
A mostra, realizada simultaneamente na Grande Sala e na Sala Paulo
Figueiredo, tem entrada gratuita durante as férias escolares, no período de 12
de janeiro a 22 de fevereiro de 2012. O coletivo Fora do Eixo comanda o DJ
Residente de 2012, projeto que propõe sons para os diversos ambientes do museu,
incluindo os espaços expositivos. Acompanhando a primeira exibição de 2012, o
coletivo explora composições colaborativas entre seus integrantes e convidados,
e faz apresentação no coquetel de abertura.
Em vez de assumir uma postura descritiva ou definitiva diante da trajetória
do MAM-SP, os curadores partiram do conceito de reencenação do filósofo e
historiador britânico Robin George Collingwood (1889-1943), que considera que a
remontagem literal de eventos passados é impossível, dadas as diferenças
incontornáveis de espaço e tempo. Na visão de Collingwood, é possível fazer uma
reencenação dos fatos passados, ou seja, pode-se remontá-los dentro das
restrições inerentes, e o público é quem vai completar esse processo, por meio
da sua presença no espaço da exposição e sua participação, considerando-se a
distância temporal e a análise dos vários fatores que contribuíram para tal
acontecimento. A própria montagem da exposição contribui para esse
resultado.
Além de contar com a exibição completa da Coleção Tamagni pela primeira vez
na sede definitiva do museu, já que sua primeira e única exposição total foi
realizada em 1968 em um auditório emprestado na avenida Paulista, a mostra
tensiona a heterogeneidade desse espólio com a inclusão de algumas obras
contemporâneas, principalmente da Máquina curatorial, de Nicolás Guagnini. Essa
obra, constituída por diversos painéis em forma de hélice, será o suporte de
obras e de documentos presentes na exposição. Com isso, a participação do
público é novamente ressaltada, já que, girando as estruturas da Máquina
curatorial, os espectadores podem mudar a configuração das obras, fazendo novas
combinações entre elas e permitindo novas interpretações.
A Coleção Tamagni tem teor predominantemente modernista, com obras de Tarsila
do Amaral, Aldo Bonadei e Francisco Rebolo, mas flerta sutilmente com a
vanguarda dos anos 1940-50 nos trabalhos de Fernando Lemos, Livio Abramo e
Arnaldo Pedroso d’Horta, entre outros. Para salientar ainda mais os diferentes
rumos que o acervo do MAM foi tomando ao longo de sua história, trabalhos
contemporâneos como Totó treme-terra, do coletivo Chelpa Ferro, e Palhaço com
buzina reta – monte de irônicos, de Laura Lima, se espalham pelo espaço
expositivo.
Um aspecto crucial da história do museu ganhará novas possibilidades de
compreensão: o momento entre 1963 e 1968, quando, destituído de seu acervo
original, o Museu de Arte Moderna de São Paulo existe apenas como nome, sem
obras e sem um espaço físico de fato que não exíguas salas administrativas,
enquanto conselheiros, como Giselda Leirner e Henrique Mindlin, lutavam pela
manutenção da existência, do nome e do papel do MAM na cena artística nacional e
internacional.
Essa etapa dramática é retomada em documentos e cartas que são resultados de
uma pesquisa realizada por Fernando Oliva, como as enviadas pela diretoria do
MAM ao magnata norte-americano e fundador do MoMA Nelson Rockefeller. Figura
também na mostra a carta redigida pelo crítico Mario Pedrosa, na qual ele fala
de “medidas para salvar o MAM de São Paulo” e de “observações destinadas ao
futuro presidente do museu”.
Esses aspectos da retomada do museu e de sua volta a um papel atuante e
relevante no cenário artístico nacional ganham uma nova dimensão com documentos
até então desconhecidos do grande público, que então pode compreender os
bastidores não só do MAM, mas da consolidação de uma cena artística brasileira
como um todo. Partindo da trajetória errática do Museu de Arte Moderna de São
Paulo, emblemático e, hoje, comprometido com o debate das novas questões
surgidas a cada dia no mundo da arte no Brasil e exterior, o espectador percorre
uma história que vai do passado em direção aos novos caminhos da arte no século
XXI.
Museu de Arte Moderna
de São Paulo :: Parque do Ibirapuera, portão 3 :: Tel.: 55 (11) 5085-1300

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